Últimos dias da temporada de "As confrarias" no Teatro Barreto Júnior
Fotos: Hans von Manteuffel |
O
espetáculo "As confrarias", da Companhia de Teatro Seraphim, encerra
sua temporada neste domingo (30), às 20h, no Teatro Barreto Júnior, no Pina,
Zona Sul do Recife. A peça, uma adaptação do texto do dramaturgo Jorge Andrade,
conta a história de Marta, uma mãe que luta para conseguir enterrar o filho,
José, no final do século XVIII, período da Conspiração Mineira. A partir desse
drama da mãe, que passa a percorrer igrejas para tentar fazer parte de alguma confraria
e enterrar José, questões ligadas ao preconceito, racismo e identidade são reveladas
de forma sutil pelo espetáculo.
"Marta
acaba desmascarando essas confrarias, que negam seu pedido por qualquer motivo,
como o fato do filho ser ator, e naquele momento ser ator era pior do que ser
negro. A peça acaba fazendo um grande louvor ao teatro, mostrando como ele é
importante para que a sociedade conheça a si própria", explica o diretor
Antonio Cadengue. De acordo com Cadengue, o espetáculo tem como pano de fundo a
questão das confrarias, que são estrutura de poder e suporte dentro das igrejas
para o estado. Nessa época não existiam cemitérios públicos, e as pessoas eram
enterradas em igrejas ou no entorno delas. "O morto ou a família dele
precisavam ser ligados a alguma confraria. E Marta e o filho não eramligados a
nenhuma", conta.
Segundo
Lúcia Machado, que interpreta Marta, a montagem dá continuidade a um projeto da
Cia. - Trilogia Brasileira, concebido em 1992/93, que incluía "As
confrarias", de Jorge Andrade; "A Morta", de Oswald de Andrade;
e "Senhora dos Afogados", de Nelson Rodrigues, que a Cia. montou em
1993, e teve uma carreira bastante exitosa. "Quanto à escolha de "As
confrarias", na época lemos muitos textos, eu, Antonio e Marcus Vinícius;
de imediato, apaixonei-me pelo texto de Jorge Andrade, pela sua temática, pela
sua carpintaria teatral, e, sobretudo, pela figura de Marta. Desde então, essa
figura de mãe me instiga. E quando se cogitou a retomada dos trabalhos da Cia.
para mim, principalmente, só a fortaleza de uma Marta conseguiria me
impulsionar, me desafiar, me virar pelo avesso", explica.
Já
Brenda Lígia, uma representante da etnia negra no espetáculo junto com os atores Alexsandro
Marcos e Gilson Paz, pontua que o marcante do espetáculo é a universalidade de
seus temas: a montagem dialoga com todos os públicos, de todo e qualquer nível sociocultural.
"É um texto extremamente atual, com a ressalva de se passar no século
XVIII, em Minas Gerais, mas que, por ressonância, chega à nossa
contemporaneidade, seja porque a peça trata da justiça, da liberdade, da
igualdade, do racismo, dos impostos exorbitantes que a Coroa portuguesa, exigia
do Brasil e que por eco vemos o quanto estamos ainda a pagar altos impostos,
dízimos ao Estado, embora não mais a Igreja (pelo menos a Católica)."
Serviço:
Fim
da temporada de "As confrarias"
De
quinta-feira (27) até domingo (30), às 20h
Teatro
Barreto Júnior
(Rua
Estudante Jeremias Bastos, Pina)
Informações:
3355-6398
Ingressos:
R$ 10 e R$ 5 (meia)
Faixa
etária: 16 anos
Duração:
1h30
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