Eduardo Araújo um pintor inquieto entre o Brasil e a Itália em exposição no Museu do Estado
Eduardo Araújo no momento da sua criação. Foto: Divulgação |
O catálogo contem texto do pintor José
Cláudio e da curadora Betânia Correia de Araújo. A rica biografia artística do
pintor que nasceu em Escada, em 1947, assim como Cícero Dia, também ganhou o mundo.
A biografia é comentada por Gianluca Marinelli. A exposição conta com o apoio
da Fundarpe, Museu da Cidade do Recife e a CEPE.
O interesse de Eduardo em ser artista
plástico veio aos poucos, de observações e visitas a museus. Na sua permanência
de dois anos no Rio de Janeiro, cresce o seu interesse pelas artes. Frequenta
assiduamente exposições e os leilões de arte, que naquela época comercializavam
pintores como Ismael Nery, Guiganar, Volpi, Di Cavalcanti, Rebolo e tantos
outros. Passa dois anos em Londres frequenta cursos livres de desenho com
modelo na Chelsea Svool of Art e tem a certeza de que realmente queria ser
pintor deixando para traz a engenharia de Minas e professor de Geologia
Aplicada da UFPE.
Na sua longa história de idas e vindas, o Inquieto Eduardo, ávido a
conhecer melhor a arte que abraçou morou durante 12 anos em Ostuni interior da
Itália com 20 mil habitantes. Sem deixar suas raízes vinha sempre a Pernambuco.
Ali começa uma nova etapa de sua vida artística entre o mar Adriático, se
dedicando primeiramente a xilogravura com estudos da cidade medieval de Gubbio,
onde expõe a sua obra gráfica.A Xilogravura “Paisagem Metafísica “, é premiada
pelo Centro Cultural Mario Conti de
França e estará na exposição.
Eduardo estudou por conta própria,
anatomia, perspectiva e teoria das cores. Frequentando o gabinete de desenhos
do British museum, teve a oportunidade de um contato direto com os desenhos dos
mestres renascentistas. Período de cotidiana leitura da edição inglesa das
cartas completas de Van Gog.
Em 1999 inicia um estudo exaustivo dos campos
de oliveiras que se estendem na planície entre Ostuni e o Mar Adriático. Pinta
por dois anos, uma centena de telas, que seria a sua última série de trabalhos
realizados diretamente da natureza. São pinturas particularmente complexas como
definição de espaço, os planos quase se dividem em três , quatro ou oito
blocos de pinceladas não uniformes com
cores fortes( vermelho terra, ocre e várias tonalidades de verde),
frequentemente as copas verde oliva invadem em diversas direções o espaço da
tela, com buracos brancos.
A exposição que hoje Eduardo apresenta
no Museu do Estado é de temas variados, amadurecida durante anos de grande
dedicação e um persistente exercício interior. Todo o seu trabalho tem uma
qualidade hoje rara, na arte contemporânea. O que vale apena conhecer seus
trabalhos.
A curadora Betânia Araújo diz que
encontra nas obras de Eduardo a urgência de expressar a beleza do mundo. A
tentativa de fixar em suportes materiais as experiências gravadas na pele. A
possibilidade de dizer o indizível. Em gestos violentos ou delicados em telas,
papel ou madeira surgem paisagens/corpos ou corpos/paisagens. Pintura diz ela é
coisa mental- a mão, o braço, a imagem, todo o corpo.
Já José Claudio interpreta o mundo
criador de Eduardo, dizendo que ele não é deste mundo. “Ele olha para o nosso
Paraíso terreal com certo enfado. Quanto barulho que há, parece dizer tudo
vaidade.” Para o também pintor, Eduardo Araújo cometeu um deslize na vida:
entregou-se ao danado vício de pintar. Avassalador. O Tinhoso sempre encontra
uma brecha para mostrar, aos eleitos, que são feitos de barro, barro esse que,
em Eduardo, depois de uma “avatar” como geólogo, se fez carne sob as espécies
de pintura, condenando-o a pintar.
José Claudio expressa o carinho e o
respeito pelo o trabalho do colega Eduardo Araújo ressaltando ser ele um pintor
racional, ou Clássico, mais de muita emoção. “Eduardo precisa de um ordenamento
feito para ele entender a natureza, com frequência na disposição da pincelada
nos grandes planos. Quando falo do sublime, do sagrado, é como se os seus
quadros estivessem parados, estático contemplativos. Fora do mundo e do tempo,
querendo salientar o seu sentimento profundo, sua religiosidade”, diz José
Claudio.
José Claudio vai mais além ao citar a “carnalidade”
insuperável no trabalho de Eduardo referindo-se ao quadro (Mulher na rede,
verde, Francisca) E, com ser analítico, não exclui a grandiosidade, magnificência
(Grande Céu, paisagens do Sertão), ou Flagrante (Banho de Mar) e os mais altos
acordes do lirismo (Paixão).
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