Por trás das cortinas: José Francisco Filho
Por: Joás Benedito
Foto: Joás Benedito
Convidado para ser ator em uma peça infantil na década de 1960, José Francisco de Paula Cavalcanti Filho começou sua carreira cênica considerando-se inapto para atuar. Parece que ele se enganou. De 1970 para cá, conquistou vários prêmios em festivais nacionais e internacionais com peças que vão da tragédia à comédia. Para ele, o fazer teatro foi como uma espécie de vírus que o envolve até hoje. José Francisco exerce o cargo de professor do curso de Licenciatura em Cênicas na Universidade Federal de Pernambuco, além de ser produtor da Circus Produções Artísticas. Atualmente, está prestando uma homenagem a uma grande figura do teatro pernambucano: o dramaturgo Rubens Rocha Filho, encenando o texto infantil O pirata tubarão e As esmeraldas do índio xavante, que aborda temas ecológicos e sociais. A peça volta em cartaz no mês de abril, no Teatro Valdemar de Oliveira, aos domingos pela manhã.
Em que tipo de teatro você aposta e quais foram os tipos de teatro com os quais trabalhou?
Até agora, durante esse tempo, dirigi de tragédia a comédia, teatro de costume, de cordel, besteirol, como se chamava. Eu e as pessoas com as quais trabalho, já criamos todo um processo de ruptura e provocação cênica. Se analisarmos, na década de 1980 eu já tinha feito besteirol aqui. Foi um espetáculo com a produção de Paula de Renor, com um elenco maravilhoso e de repente estourou essa coisa no Rio de Janeiro e em São Paulo e eles diziam que tinham inventado o besteirol. Já fizemos teatro grego dentro de igrejas antigas do Recife, teatro de comédia, enfim, acho que para um diretor e encenador e principalmente para um ator não existe um tipo de teatro que goste de fazer.
Como foi dirigir O beijo da mulher aranha, de Manuel Puig, em 1985, no período da ditadura militar?
Esse espetáculo foi muito marcante, mas não foi produção da Circus, foi de um outro grupo. Trouxemos o Manuel Puig em uma época em que o filme estava concorrendo a um Oscar lá fora. Isso foi um viés muito bom para nós, porque ele veio assistir ao espetáculo e disse publicamente que foram as duas montagens mais belas que já viu em todo o mundo, a daqui e a do México. Não havia ninguém que não tivesse passado pelos motivos mais sórdidos e bizarros do mundo em relação à censura, eles cortavam não só a obra do autor como a do encenador ou da própria produção teatral. Esse é um assunto sobre o qual o pessoal da década de hoje que está fazendo teatro deve ler mais e saber mais sobre o tema. É preciso que vejam o quanto foi importante o momento de ruptura para a cultura brasileira e pernambucana. Especialmente pernambucana porque este foi um dos Estados da Federação que mais foram empestados por essa provocação do regime militar.
No geral, como você classifica as artes cênicas de Pernambuco? Quais seriam as soluções que os órgãos responsáveis deveriam tomar?
Acho que eles estão sendo um pouco grosseiros, estão precisando de uma retomada, estão meio sucateados. O Governo do Estado deveria tentar solucionar os problemas dos que já existem e, ao mesmo tempo, fazer, criar e construir novas casas de espetáculos. A classe artística pernambucana ainda está muito ambientada no palco italiano, naquela coisa de palco-plateia. Precisamos de espaços alternativos. Temos teatros lindos como o Teatro Marco Camarotti, o Arraial que passou um bom tempo fechado e ninguém sabe por quê. O Teatro do Parque está fechado há dois anos e ninguém sabe quando abre... Tudo isso é muito desgastante para a classe teatral. Como você pode produzir um espetáculo sabendo que só vai poder apresentá-lo no máximo duas vezes?... Para uma temporada ganhar a simpatia do público ela precisa de no mínimo uns três meses.
Você acha que a classe teatral já se habituou a exigir aquilo a que de fato ela tem direito, assim como equipamentos técnicos etc.?
Não, acho que é uma questão muito mais de favores do que de obrigação. As grandes empresas tinham a obrigação de fazer disso uma coisa concreta. As pessoas têm que passar exaustivamente um tempo esperando dinheiro. Quando esses apoios culturais saem, elas passam de seis meses a um ano para receber o dinheiro. Por que é que para os órgãos públicos a arte de representar, por ser ator ou encenador, ainda é uma profissão de mendicância? Por que não é uma profissão com carteira assinada, com sindicato dos artistas e associação dos produtores? Por que ainda não tomamos uma posição concreta no sentido de dizer que ser ator, fazer teatro é uma arte profissional? Não acredito que outro trabalhador execute o seu trabalho e passe um ano para receber. É necessário que as pessoas fiquem alertas, pois é isso que acontece atualmente em todos os níveis da cultura pernambucana.
Para você, existe algum gênero específico de texto com o qual você goste mais de trabalhar? Quais são os caminhos que um encenador deve tomar?
Quando o texto é bom, não importa que ele seja uma comédia ou uma tragédia. O que eu gosto é de pegar uma tragédia grega e transportá-la para uma encenação mais espontânea, livre e moderna. Acho que você tem que aliviar o texto clássico com uma encenação expressionista, como você pode também pegar uma comédia e fazer dela uma coisa deliciosa sem precisar apelar para o palavrão ou para a agressão ao público. Tudo isso faz parte do caminho de um encenador. Não existe o clássico, o moderno, a tragédia ou a comédia, o que existe é o encenador estar pronto para dar uma linha cênica àquele pedaço de papel que tem nas mãos.
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