Ivonete Melo

Por Joás Benedito
Fotos Joás Benedito

Ao contrário do que muita gente pensa, ser ator/atriz não é nada fácil. O que antes era comparado a uma prática marginal passa a ser hoje uma atividade regulamentada por lei. Esqueça a ideia de que a cena pernambucana é limitada para estes profissionais. Quem garante isso é Ivonete Melo. Atriz, bailarina e presidente há 8 anos do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Pernambuco, SATED. Em conversa com o repórter e fotógrafo Joás Benedito, ela fala um pouco de sua trajetória artística, sua profissão e suas conquistas.
Os processos para se registrar profissionalmente e as oportunidades no mercado de trabalho,para quem tem criatividade e se dedica.

Quando você começou a se envolver com as artes cênicas?
Eu comecei muito cedo, quando estudava ainda num colégio. Era um colégio modelo onde tinha todas as artes desde a música. Eu tocava em bandinha, eu fazia parte do balé e fazia parte do grêmio. Então, assim, eu comecei em um colégio em Afogados e lá tinha todas as artes possíveis e imagináveis. Eu cantava também no orfeon, um canto coral o qual eu era primeira voz e surgiu uma série de coisas e foi daí que partiu o meu gosto pelas artes, então quando eu saí de lá eu fui para o Teatro de Santa Isabel e entrei no corpo de baile, fiz uma prova, lógico né, porque antigamente a prefeitura tinha um corpo de baile e eu fazia parte, e lá estudei 11 anos, depois fui pra Flávia Barros, estudo de dança e fiz com Norma Bittencourt e dentre de tantos e tantos cursos ensinei e estudei vários anos e aí foi quando surgiu um grupo em Olinda e me chamou para fazer um trabalho de corpo e eu fiquei lá fazendo teatro até hoje. Depois fiz curso de formação para ator pela Universidade Federal do Joaquim Cardoso, acho que foi o primeiro curso de formação de ator, e depois fiz curso com Marco Siqueira e fui por aí. Hoje sou diretora do SATED.

Você atua em outras áreas, fora os palcos e o sindicato?
Eu faço trabalhos para o Ministério da Saúde, com trabalhos de conscientização com relação às doenças, a conscientização sobre a importância do saneamento, de economizar a água, quer dizer, eu faço também trabalhos nessa linha. Trabalhos de rua ligados ao meio ambiente, em escolas, praças públicas, feiras. É um trabalho de conscientização.

Hoje, qual é a sua contribuição para o teatro pernambucano?
Olhe, eu acho que eu já dei grandes contribuições para o teatro pernambucano, porque não é à toa que tem, acho que seis livros escritos. Só de Leidson Ferraz têm quatro livros que é a Cena pernambucana, nos quatro livros eu estou citada. Tem um livro de Arnaldo Siqueira de dança que também eu estou lá, tem o livro Mulheres que mudaram a história de Pernambuco, que também tem a minha história, as peças que eu fiz, os diretores que me dirigiram. Tem o livro de Lucia Machado, falando sobre o meu trabalho, falando sobre o grupo que eu trabalhei. Claro que eu ainda sou atriz que eu ainda atuo, a última peça que eu fiz foi Anjos de fogo e gelo, mas, a minha contribuição maior hoje é no sindicato.

O SATED surgiu a partir de qual necessidade?
Ele surgiu em 87 porque existia uma associação, a APATEDEP, Associação Profissional dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de Pernambuco. Era uma asociação de amadores, então depois dessa associação, em todos os estados estavam surgindo os sindicatos,  a nossa lei do artista tinha sido criada em 1978 e a gente teve essa necessidade. Na época era Paulo de Castro, presidente da associação. Ele batalhou junto com os artistas e chegou a formar o sindicato.  

Como ele funciona e se mantêm?
Funciona de segunda a sexta de 09 às 17h. Abrange a áreas de circo, dança, teatro, moda, cinema e vídeo. Ele tem um jornal já há 11 anos, o Ribalta, ele tem o Culturaprev, que é uma aposentadoria complementar do artista. A gente procura fazer o possível e o impossível para que o associado se satisfaça. A gente também dá todas as orientações sobre as leis, os editais, porque o artista hoje não tem que ser só o artista, ele também tem que ter conhecimento de empreendedorismo, ele precisa ter esse conhecimento porque o artista só é muito pouco. Então é preciso que ele entenda todo o processo se antene e se intere de tudo que está acontecendo ao seu redor. O SATED se mantém com as mensalidades dos artistas, com projetos de convênios que a gente faz com os associados, contratos e etc. No sentido de oficinas, Janeiros de Grandes Espetáculos, as oficinas somos nós que fazemos. Quando eu assumi aqui a minha carta de intenção foi parceria, porque eu acho que hoje em dia a gente não faz mais nada sem a ajuda do outro. Então é isso, o sindicato está aqui para servir o trabalhador o associado. Todo o mês de maio a gente tem o nosso dissídio coletivo, tem as tabelas de pagamento. Hoje, somos um sindicato conhecido nacionalmente devido a todo esse processo de interação com os outros estados e também porque a gente se encontra, a gente tem um conselho nacional de sindicatos que discute sobre o código de ética do artista.

Fora Pernambuco, o sindicato existe em outros estados?
Tem na Bahia, tem em Alagoas, tem no Ceará, na Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Santa Catarina tem em quase todos os estados. Mas o pioneiro foi o do Rio de Janeiro, fundado em 1918.

Quais são os requisitos básicos para o ator / atriz conseguir o registro profissional?
Para se tirar um registro profissional, tem que comprovar que em 5 anos foram desenvolvidos trabalhos voltados para o teatro, com declaração, certificados, jornal tudo o que ele já fez na vida. O candidato passa por uma oficina de 3 dias, depois faz a prova prática, a gente distribui entre três e quatro textos para eles escolherem qual eles querem fazer e no dia a gente vai com uma banca examinadora formada por três pessoas. Eles são julgados pela interpretação, domínio de palco e pela voz. Tem a avaliação do currículo e a prova escrita também. Então as quatro notas o candidato tem que ter uma média sete. No ato da inscrição a gente dá uma apostila onde fala da origem do teatro até o teatro hoje, tudo muito resumido, tudo muito mastigado.

   
Em média, quantas pessoas procuram o SATED para se profissionalizar?
O número em média eu não sei informar porque varia muito. A gente faz duas vezes por ano, em março e outubro. A gente abre as inscrições em fevereiro e em março. Abre a inscrição em setembro e faz a prova em outubro e depende muito, porque hoje a gente tem um convênio também com o SESC de Piedade, que tem um curso de formação de 2 anos. No final do curso a gente vai com a banca para a obtenção do registro profissional.  

Quais foram os atores que hoje representam o estado, na televisão, no cinema e no teatro, que passaram pelo SATED?
A gente tem lá fora o Bruno Garcia, o Tuca Andrade. A gente tem a Gisele Tigre, João Falcão. Temos muita gente lá fora que saíram daqui e graças a Deus deu certo.  

Você acha que o mercado de trabalho em Pernambuco é amplo para quem quer seguir a profissão de ator?
Tem campo para todo mundo. Basta você ser criativo e diferente, o ator pode fazer teatro em condomínio, teatro em escolas, teatro de rua, teatro para empresas, teatro no palco. Quer dizer, você faz mil coisas com o teatro, basta a sua criatividade, a sua disposição para trabalhar. Não é fácil, mas, já existe muita gente vivendo de teatro aqui em Pernambuco.

Qual é o piso salarial?
O salário varia, porque vai depender do projeto. Aqui tem o piso salarial por espetáculo, dentro da cidade. No teatro se você vai fazer uma temporada tem um piso que é R$133 por espetáculo, mas, se você faz um espetáculo alternativo, já é outro valor, e se você vai fazer uma peça dentro do projeto também é outro piso, se você sai da cidade, viaja, o cachê é dobrado.

Que dica você dá para quem quer começar na carreira de ator?
Primeiro ele tem que pensar muito, se é isso que ele quer, essa é a primeira dica. Depois estudar, se interar no assunto. E terceira, é tomar conhecimento sobre o empreendedorismo e ter coragem, muita coragem mesmo. As pessoas pensam que ser artista no modo geral é fácil, ganha fácil. Não sabe o que existe por trás, a trabalheira para se chegar até no palco. Somos discriminados até hoje, uma das coisas que eu trabalho muito aqui é a valorização. Se valorize, porque você se valorizando, valoriza o seu trabalho.


www.satedpe.com.br
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ivonete_melo@yahoo.com

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