Cidade Universitária
Por: Felipe Mendes
Fotos: Joás Benedito
Fotos: Joás Benedito
Espaço dedicado ao ensino e à pesquisa de todas as áreas do conhecimento, a universidade é, por excelência, um centro de saber. No Recife, a Universidade Federal de Pernambuco possui um amplo campus com 12 Centros Acadêmicos, 8 Órgãos Suplementares, Centro de Convenções, Biblioteca, Restaurante, Hospital das Clínicas, Creche, pista de cooper e um lago, além da Reitoria e da prefeitura própria.
Tal estrutura, por si só, constitui um dos 94 bairros de nossa cidade. Algumas dezenas de milhares de alunos, professores e técnicos entram e saem de seu território e movimentam-se em seu interior diariamente, trazendo movimento, agitação, sons, vidas e histórias a prédios construídos para a transmissão do conhecimento. Rodeada pelos bairros da Várzea, Engenho do Meio e Iputinga, a Cidade Universitária é um bairro único na paisagem da metrópole, e sua vivência é também uma experiência única no dia a dia do Recife.
Quem nos apresenta o bairro onde vive é o cantor lírico Waldomiro Ribeiro. Nascido em Macaparana, interior de Pernambuco, ele mora há três anos – tempo em que cursa Música na UFPE – na Casa do Estudante Universitário, localizada dentro da Universidade Federal de Pernambuco. Na verdade, todos os moradores desse bairro tão peculiar residem na Casa do Estudante Universitário, já que os limites da Cidade Universitária compreendem exatamente o campus da universidade.
É na Casa do Estudante que iniciamos nosso passeio. Inaugurada em 1970, a Casa tem a capacidade de abrigar 192 estudantes (todos do sexo masculino) simultaneamente, em quartos para quatro estudantes. “Há alunos de várias cidades de Pernambuco, de outros Estados e até de outros países”, explica Waldomiro, enquanto conhecemos um pouco da estrutura que conta com salão de jogos, sala de vídeo, sala de estudos, sala de informática, lavanderia, uma pequena biblioteca e um galpão multiuso recentemente inaugurado, em que é possível a realização de apresentações artísticas e festas, entre outras atividades.
Waldomiro nos explica que a CEU se organiza em sete diretorias, todas ocupadas pelos próprios moradores. Existem também algumas vantagens: nosso guia avisa que os residentes podem escolher uma atividade física e ter aulas no Centro de Educação Física, que fica bem próximo ao alojamento. Há também sorteio de ingressos entre os moradores da casa para shows no Teatro da UFPE.
Ao sairmos, logo avistamos o novo prédio que está sendo construído para ampliar a Casa do Estudante, além de trazer a Casa da Estudante (feminina) para dentro do campus. Seguindo, encontramos dois grandes campos de futebol, uma pista de corrida, piscinas um amplo espaço cobertos com várias quadras, cantina e academia. Estamos no Centro de Educação Física, onde há sempre muito movimento. Nas quadras, turmas de crianças realizam atividades coordenadas por monitores da graduação em Educação Física, que realizam cursos de extensão universitária. “Para nós a localização do centro perto da Casa é estratégica”, pondera nosso guia.
Continuando nossa exploração, avistamos uma construção em forma de pirâmide e com um espelho d’água em todo o seu entorno. A bela construção e sua aparência moderna combinam com as atividades que são realizadas aqui. Estamos no Núcleo de Tecnologia da Informação, e logo que entramos encontramos a Praça da Informação Cândido Pinto, onde 8 computadores proporcionam a alunos e principalmente moradores do entorno a UFPE conexão com a internet gratuita. “Não é necessário ser estudante da UFPE para se ter acesso ao Núcleo”, afirma Waldomiro.
Cada pessoa tem direito a uma hora de acesso, e basta ir até o Núcleo de Tecnologia da Informação. O Núcleo tem também a importante tarefa de administrar a toda a rede da universidade. “Aqui se desenvolve e administra o sistema”, resume Luiz Sérgio, diretor administrativo. Luciene Almeida, secretária do NTI, nos avisa que cerca de 120 pessoas trabalham aqui. Outra atividade do Núcleo é a oferta de cursos de extensão de informática. Eles também são realizados sob demanda de empresas que entram em contato e precisam capacitar seus funcionários, como explica Nadja Medeiros, gerente de capacitação.
Caminhando pela Av. dos Reitores, que com a Av. Reitor Joaquim Amazonas forma o binário viário central da Cidade Universitária, chegamos ao Centro de Convenções da UFPE. De bela arquitetura, o Centro de Convenções abriga o bonito e confortável Teatro da UFPE, com capacidade para 1931 pessoas. “O Teatro é um lugar importante na minha vivência na universidade”, afirma Waldomiro, que lembra ter se apresentado algumas vezes neste palco, além de sempre assistir a shows de música aqui.
O centro ainda abriga uma cafeteria, espaço para exposições e salas de diversos tamanhos para palestras, debates e seminários, incluindo a Sala Cine.
O teatro, pela qualidade das instalações, atrai espetáculos de primeira linha, alguns caros demais para estudantes pagarem, como lembra nosso guia. O Centro de Convenções da UFPE ainda inclui a concha acústica, onde frequentemente ocorrem shows musicais abertos. “Na concha, a maioria dos eventos são calouradas”, afirma Sérgio Falcão, gerente do centro.
Todo o campus é bem arborizado, o que garante proteção e conforto ao calor característico de nosso clima. “Em época de frutas como manga e jambo, aqui fica cheio”, avisa Waldomiro. Logo encontramos a Biblioteca Central da UFPE. Na entrada, um ambiente projetado para o estudo está cheio de alunos lendo. O prédio está sendo todo reformado, numa obra que começou a pouco mais de seis meses.
O campus da Universidade Federal de Pernambuco está vivenciando um momento de muitas reformas e construções, que prometem abrigar uma demanda sempre crescente de alunos e melhorar a qualidade das instalações físicas da universidade. A Biblioteca Central é focada nos estudantes, professores e funcionários da UFPE, mas seu acervo é acessível para qualquer pessoa. São livros diversos, teses e dissertações e revistas, além do acervo multimídia com filmes, documentários, entrevistas e cursos de línguas.
A reserva das obras pode ser feita pela internet, utilizando o sistema Pérgamo e as consultas ao acervo são feitas pelo computador. Há um serviço de orientação em relação à normalização de trabalhos acadêmicos e várias atividades são realizadas pela biblioteca, interagindo coma comunidade acadêmica e com os moradores do entorno da Universidade Federal de Pernambuco.
Ao lado da Biblioteca encontramos uma nova construção, inaugurada há pouco tempo, após muitos anos de reivindicação de diferentes gerações de alunos: o Restaurante Universitário. Apesar de estar satisfeito pela instalação do restaurante, Waldomiro ressalta que ele é muito pequeno quando comparado à demanda, já que tem apenas 550 lugares em uma universidade que abriga dezenas de milhares de pessoas, o que tem gerado grandes filas.
Continuando nossa caminhada, chegamos ao Centro de Artes e Comunicação (CAC), onde estuda nosso guia. Entramos para conhecer um pouco do local onde Waldomiro realiza seus estudos musicais, razão que o trouxe até ao Recife, à UFPE e à casa do estudante. O CAC também está sendo ampliado com a construção de um novo prédio. Encontramos o professor de música Flávio Medeiros e ele lembra que, dentre as obras a serem realizadas na universidade, está a construção de um prédio voltado exclusivamente para o curso de música, com toda a infraestrutura necessária ao seu funcionamento, como isolamento acústico e instrumentos em condições perfeitas de uso.
Entrando no Departamento de Música, encontramos várias salas sendo utilizada por alunos, que exercitam-se em diversos instrumentos como os de sopro, piano e voz. Em uma sala vazia, Waldomiro se aproxima de um dos dois pianos e, à vontade, toca de leve uma harmonia. Em meio à mistura de sons, seguimos para encontrar um grande jardim central que oferece um pouco de sossego a quem passa ou estuda aqui. No centro fica também o Teatro Milton Baccarelli, que foi todo reformado em 2002.
Sempre em meio a muitos alunos que conversam, estudam, relaxam à sombra ou passam apressados, seguimos nossa caminhada. Logo o mais alto edifício da Cidade Universitária – o Centro de Filosofia e Ciências Sociais (CFCH) – e seus 15 andares chamam nossa atenção. O centro também está passando por reformas. Ao seu lado, fica o Centro de Educação, que tem como anexo o Colégio de Aplicação. Oferecendo aulas dos ensinos fundamental e médio, o CAp é referência e seus alunos passam por rigoroso processo de seleção para estudarem aqui. O Colégio funciona também como centro de pesquisa pedagógica e muitos alunos de licenciatura da UFPE estagiam aqui, complementando sua formação.
Nossa exploração termina no Lago do Cavouco, conhecido popularmente por “Laguinho da Federal”. “O laguinho é um refúgio para os estudantes”, nos fala Waldomiro Ribeiro, que completa: “Dá até pra cochilar”. São muitas as pessoas que encontramos muitas pessoas ao redor do lago. Algumas estão deitadas tranquilamente no gramado, outras lendo, conversando, relaxando, namorando e até cochilando, como nos mostra nosso guia. Há um pequeno píer que também é utilizado pelas pessoas.
O laguinho já recebeu vários eventos, e é aberto nos fins de semana, quando é muito utilizado pela população residente no entorno da Cidade Universitária, que tem na área um verdadeiro parque equipado com mesas, bancos e gramado. Enquanto a tarde avança, nos deixamos descansar um pouco em ambiente tão tranquilo. De noite, outro aspecto importante da vida da Cidade Universitária se dá fora de seu território: a convivência boêmia que acontece nos inúmeros bares e lanchonetes que existem em todo o entorno do campus da UFPE.
A construção da identidade de um povo baseia-se, em grande parte, no conhecimento acumulado e compartilhado socialmente. O bairro que conhecemos nesta edição da série Meu Bairro... Moro Aqui tem sua existência intimamente ligada à produção e compartilhamento desse conhecimento, que nos desvenda sempre um pouco mais a realidade do nosso mundo, do nosso país, da nossa cidade e, por que não, do nosso bairro.
Em nossa caminhada, sempre nos deparamos com porções da vida da cidade que às vezes escapam na correria do dia a dia, quando nossos afazeres tomam toda nossa atenção e deixamos de prestar atenção a toda a riqueza que pulsa constantemente em cada recanto do Recife. Mesmo nos locais mais inusitados é possível encontrar um pouco daquilo que, sutilmente, constrói a identidade da nossa cidade e, por extensão, a nossa própria.
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