O "Inverno Astral" de André Zahar aporta no Prouvot Bistrô

Exposição fotográfica compõe o projeto Arte Prouvot, que promove interações entre gastronomia e arte. Bistrô apresentará cardápio especial baseado nas memórias gustativas da Islândia, onde parte das fotos foram tiradas.

Voar para bem longe como fazem as aves migratórias, mas em sentido contrário: ao encontro do frio. Ouvir o gelo estalando quando derrete de milenares geleiras; assistir o espetáculo da aurora boreal, sentir o frio no fundo da pele que um dia secou no sol do Cariri. Descer até as profundezas de um vulcão extinto, depois de ter visto nascer a flor de um solo destruído pelas queimadas. Uma experiência de estar só, engolido pela natureza, transmutado por ela, e também pelas cidades e seus habitantes. Sertão do Cariri, Chapada Diamantina e Islândia, entre outras paragens, compõem o cenário poético de onde o jornalista e poeta André Zahar colhe imagens para contar uma história de ciclos vitais, com suas destruições, criações, exílios, e eternos recomeços.

O conjunto de fotografias, acompanhadas por textos poéticos e uma playlist especial, é origem da mostra Inverno Astral, que ocupa, a partir do dia 7 de dezembro, as paredes do Prouvot Bistrô (R. Albino Meira, 58 - Parnamirim, Recife). Este é o segundo endereço da mostra, que já passou por um pub recifense e agora interage com o ambiente da gastronomia, que por sua vez se molda também à proposta da exposição.

FOTO E GASTRÔ - Para a ocasião, os chefs Hugo e Julio Prouvot preparam um menu especial, inspirado em memórias gustativas da Islândia - principal cenário das fotografias - compartilhadas com eles por Zahar. Na abertura da mostra haverá petiscos e pratos avulsos (além dos menus fechados do bistrô), com preços promocionais. Esta será a segunda exposição do projeto Arte Prouvot, idealizado pelo gerente do restaurante, Hugo Torres, cujo objetivo é harmonizar gastronomia e as mais diversas linguagens artísticas, além de criar o ambiente para encontros diversos no acolhedor espaço no bairro do Parnamirim.

Para Zahar, que já interage com as artes visuais através de suportes como lambe-lambes, o diálogo de fotografia, poesia, música e gastronomia permitirá uma fruição sinestésica das obras apresentadas. A seleção musical feita por ele reúne trilhas que o acompanharam e descobertas feitas nos deslocamentos, além de temas relacionados aos do trabalho.

INVERNO ASTRAL - A narrativa das fotos começa em janeiro de 2016, na Chapada Diamantina, após um incêndio ter devastado uma grande extensão de terra.  “Quando estive lá, pouco depois, uma linda flor violeta cobria a paisagem. Era uma cena rara: o candombá, que abre sua flor justamente após as grandes queimadas e há muito tempo não aparecia por ali, se proliferava até o horizonte, na mesma proporção da destruição de alguns meses antes. Vi naquilo uma vingança da beleza. Soube também que, uma vez arrancada, a planta contém uma resina inflamável, que, séculos atrás, se acendia para que fosse usada como tocha nas cavernas. Passei a pensar na regeneração e nos ciclos de criação e destruição, que estão na natureza mas também na vida de cada um de nós. E que a sabedoria, ao contrário do mito da caverna, também pode ser buscada no fundo da caverna, e não apenas fora delas”, revela o artista.
A imagem das flores - uma das que integra a exposição - o acompanhou como uma metáfora ao longo de transformações vitais. A ela se referia como “flor de vulcão”. E nessa trilha, ao pensar nos vulcões e seu efeito devastador e ao mesmo tempo fértil, decidiu que partiria para a Islândia, país de intensa atividade vulcânica. “Quando se aproximou a data, me perguntei por diversas vezes o porquê de ter escolhido aquele destino, com uma natureza tão alheia à nossa ideia tropical de cores abundantes, calor, frutas suculentas. Fui percebendo que minha alma estava em busca de um inverno”, conta. Uma vez naquele país, além de aves migratórias, de uma paisagem absurda que reúne, na mesma moldura, gelo e cinzas vulcânicas, e de narrativas sobre sucessivas destruições provocadas pelos vulcões, encontrou muitos viajantes solitários, movidos pelo mesmo impulso. “Quase como se ir para lá seja uma forma de estar sozinho”, revela.

A maioria das fotos é fruto dessa imersão na Islândia, somada à imagens de outras travessias, pelas dunas do Ceará, pelo Sertão do Cariri e Chapada Diamantina que, para Zahar, evocam percepções poéticas semelhantes. “Sempre me interessei por narrativas de deslocamentos. Elas também fazem parte da minha história, de ter família em Alagoas, no Rio, de ser descendente de libaneses, e de acreditar que o ser que se abre à experiência do deslocamento de alguma forma cria dentro de si suas próprias fronteiras.”

SOBRE O AUTOR - Natural do Rio de Janeiro e morando em Recife desde 2013 (escolheu a cidade motivado por sua efusiva e polivalente produção cultural), André Zahar dedica-se ao jornalismo, mas também a poesias e artes visuais. É autor de Mafuá - Autoajuda para Mamutes, do cordel A Praga da Corrupção e participante da coletânea internacional de contos O Último Livro do Fim.

Serviço:
Inverno Astral - Exposição de fotos e poesias de André Zahar
Abertura: 7 de novembro, às 20h.

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