Coletivo Angu de Teatro encena Ossos no Teatro Barreto Júnior.

Foto: Joanna Sultanum
Segunda temporada começa neste fim de semana. 

Uma história de amor, exílio e morte. Ossos narra a viagem do dramaturgo Heleno de Gusmão de volta a suas lembranças e origens, a pretexto de entregar os restos mortais do seu amante aos familiares. A montagem do Coletivo Angu de Teatro borra as fronteiras entre música, dança e representação. Ossos teve sua primeira temporada, com sucesso de público, em Junho deste ano, no Teatro Apolo e volta à cena, próximo dia 19 de Agosto e fica em cartaz até 25 de Setembro no Teatro Barreto Júnior, sextas e sábados, sempre às 20h e Domingo às 19h30.

Mediado por interferência de um coro de Urubus, os fatos são apresentados de modo não linear, embaralhando começo, meio e fim. Uma parte se desenrola num submundo paulistano, povoado por diferentes classes de retirantes nordestinos, e outra se dá na estrada que leva o escritor até Sertânia, no interior de Pernambuco.

É a primeira vez que o Coletivo interpreta um texto dramático. E este foi escrito por Marcelino Freire a pedidos do grupo que começou a carreira encenando o seu livro de contos Angu de Sangue. O Coletivo Angu de Teatro, desde seu nascimento, escolheu falar diretamente para a plateia, sem muitas voltas, sobre temas emergentes, sobre questões urgentes de nossa realidade e desta vez não poderia ser diferente. Com temática LGBT, Ossos mostra sem eufemismos o lado humano e sentimental de personagens ainda estigmatizados como a travesti e o garoto de programa. O caráter político e a contundência de sua crítica social são marcantes nessa montagem, que se faz mais do que necessária nos dias de hoje. O texto revela as fraturas expostas de nossa sociedade transportadas para o palco sem panfletarismo.


Durante os oito meses de trabalho sobre o texto, a encenação foi pensada sob a ótica do personagem central: o dramaturgo Heleno de Gusmão. Sua perspectiva, sua concepção de mundo, norteiam a dramatização da subjetividade dos eventos, como fragmentos de memória, como cenas de um sonho, como presentificação de uma vida supra real. Ele aparece em cena ora falando diretamente para o público, ora mergulhando no reviver de suas lembranças. Isso nos permite instaurar na cena distorções da realidade e valorizar o caráter simbólico de coisas e pessoas.

Numa atmosfera de sonho e pesadelo, carregada de sombras, luz irreal, formas bizarras e distorções visuais, a peça busca alcançar o rompimento de categorias como tempo e espaço. No palco, a história dá pulos para a frente e para trás. A narrativa é fragmentada, quase como num processo cinematográfico, explorando cortes secos, sobreposições e fusões de cenas.

Marcelino, no próprio texto, faz muitas referencias à sétima arte. Não por outro motivo o espetáculo explora fortes traços expressionistas, remetendo ao Cinema Noir e aos Road Movies. Como afirmava Kurt Pinthus - um dos precursores do expressionismo alemão, o Teatro precisa deixar “o mundo do espírito atuar no mundo real”. O texto do autor pernambucano já traz isso como um dos componentes centrais da trama e nós destacamos ainda mais.  O clima sombrio, permeado pela presença constante da morte se alterna com o humor e o colorido trazidos por personagens e situações surpreendentes.

Serviço:
OSSOS
De Marcelino Freire
Pelo Coletivo Angu de Teatro
De 19 de agosto a 25 de setembro
Teatro Barreto Júnior
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 19h30
Ingressos: R$30,00 inteira / R$15,00 meia-entrada

Classificação indicativa: 16 anos

Comentários

  1. Muito bom este espetáculo. Indico a todos que querem viver um sonho de sucesso de uma imigrante nordestino à São Paulo. tem religião, amor, sexo, mentiras e muita emoção.

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  2. Muito bom este espetáculo. Indico a todos que querem viver um sonho de sucesso de uma imigrante nordestino à São Paulo. tem religião, amor, sexo, mentiras e muita emoção.

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