Orquestra do Movimento Pró-Criança grava seu primeiro CD
A
Orquestra do Movimento Pró-Criança está em festa. A história destes meninos e
meninas de bairros pobres da Região Metropolitana do Recife vai ganhando novos
desenhos e horizontes cada vez mais amplos através da música e agora, começa
uma nova etapa da caminhada, com a gravação do primeiro disco do grupo, que
está em processo de produção e deverá ser lançado no segundo semestre.
Justamente no mesmo período em que a instituição comemora seus 20 anos de vida
e dedicação atuando na Região Metropolitana do Recife, sendo considerada uma
das principais estruturas do país no desenvolvimento sócio-educativo de
crianças, adolescentes e jovens em situação de exclusão social. Através de
atendimento e orientação médica, jurídica, psicológica e educacional e
qualificação profissional, somente ao longo de 2012 foram beneficiados
diretamente mais de 1,3 mil crianças, adolescentes e jovens, além de 880 pais
e/ou responsáveis.
Histórias
emocionantes de jovens que vão mudando a vida se misturam com os passos da
Orquestra Pró-Criança. A de Bernardo José, que mora com a mãe, o pai e sua irmã
em Brasília Teimosa, é uma delas. Em janeiro de 2011 foi convidado pela
Associação de Moreno e começou a dar aulas de violino para crianças da cidade
todos os sábados pela manhã. Com o salário, começou a ajudar sua família, já
comprou um computador e colocou internet em casa. Além das aulas em Moreno e
das apresentações com o grupo do Pró-Criança, Bernardo formou um quarteto com
três amigos e estão tocando em festas, casamentos e eventos. “Depois que a
música entrou na minha vida, todo dia eu penso nela”, diz.
Tem
ainda muitas outras histórias emocionantes para se contar dentro da orquestra.
Como a de Estefanny Patrycia e de Moab da Silva Oris. Em comum ambos têm uma
história de lutas por serem filhos de duas das tantas famílias pobres que vivem
em Pernambuco. Ela mora no Alto da Bondade e ele na comunidade do Pilar. Mas
tem mais, os dois, em momentos diferentes de suas vidas, se apaixonaram por um
instrumento musical, o mesmo, o violino, e comemoraram juntos uma grande
conquista, Estefanny e Moab conseguiram comprar os próprios violinos no final
de maio de 2010 e o sonho de se tornarem músicos ganhou mais força e tons
novos, de início de realidade.
“Ter
o seu instrumento para estudar quando se sente vontade faz a maior diferença no
aprendizado”, diz o maestro Crisóstomo Santos, clarinetista da Banda Sinfônica
do Recife e do grupo instrumental SaGRAMA e que coordena a Escola de Música de
Afogados da Ingazeira e dirige a Orquestra Movimento Pró-Criança. “Quando
comecei a tocar, meu pai era tecelão e não podia comprar um clarinete para mim.
Foi o meu tio que me deu de presente um velhinho um dia e isso foi muito
importante na minha formação”, completa.
Com um jeito tímido, mas acompanhado
de um sorriso e de uma força que transborda pelos olhos quando começa a contar
a sua história musical, Estefanny diz que viu a sua prima tocando violino uma
vez e desde esse encontro nunca mais deixou de sonhar com o instrumento.
Procurou o Movimento Pró-Criança já com o intuito de iniciar os estudos
musicais, há pouco mais de cinco anos, e como na época a instituição só
dispunha de quatro vagas para o curso de violino, que já estavam preenchidas,
Estefanny teria que começar aprendendo piano. “Eu fiquei triste, chorei, mas
comecei a estudar. Aí soube que tinha saído um dos alunos do violino e não
deixei passar a oportunidade”, conta. A prima de Estefanny, Natalie, que morava
no Alto do Céu, também começou a tocar em projetos sociais, hoje segue na
carreira musical e está morando na Bahia.
Coincidências
do destino, Natalie saiu do mesmo projeto social do atual professor de violino
de Estefanny, Márcio Pereira. “Eu vejo os meninos da Orquestra do Pró-Criança
com potencial e uma vontade imensa e isso é muito bom e estimulante para um
professor. A música pode sim mudar a vida de alguém. Mudou a minha, a de
Crisóstomo e vai mudando a dos meninos”. Ele conta que começou a estudar com 12
anos e durante seis anos usou um instrumento emprestado. “Estava com 21 anos
quando comprei o meu primeiro violino. Os meninos ainda são jovens e já com uma
força de vontade tão grande. É muito bonito de se ver”.
Moab
da Silva Oris trabalha desde cedo na lanchonete do pai, Ely Oris dos Santos, em
frente à Prefeitura do Recife. Ele ajuda o pai das 5h da manhã até 7h. Sai de
lá, vai para o Pró-Criança para sua aula de música. Sai de lá, toma banho,
almoça e vai para o colégio, onde cursa o Ensino Médio. Às 18h volta para a
lanchonete para ajudar o pai e às 20h volta para casa. “Agora, quando chego em
casa, ainda consigo estudar uma hora toda noite, graças à conquista do meu
próprio violino. Aos sábados e domingos, estudo umas cinco horas”, diz. “Antes
de comprar o meu instrumento, às vezes eu deixava de lanchar no Pró-Criança
para aproveitar aquela horinha e poder estudar”.
Moab
diz que está seguindo seu caminho e quer se tornar músico profissional.
Estefanny diz que vai fazer faculdade de Música e Medicina. “Quando começamos a
apostar na formação em música erudita tudo era mais difícil, os instrumentos
são caros e no princípio eram apenas quatro violinos. Depois entrou o
violoncelo. Hoje temos uma orquestra completa”, explica a gestora cultural do
Espaço Cultural Maria Helena Marinho, Rosa Campello. A Orquestra do Movimento
Pró-Criança hoje está completa depois dos novos instrumentos recebidos em 2012
de um grupo de estudantes holandeses alunos do saxofonista Fred Berkemeier, que
também ficou sensibilizado com o trabalho em uma visita que fez ao Recife para
apresentações por aqui. O grupo foi criado a partir do esforço do maestro
Crisóstomo Santos e do professor Márcio Pereira. “Antes havia aulas de piano e
violino, mas não tinha uma orquestra. As aulas de violino começaram a ficar
complicadas e a direção estava pensando em parar. Então tivemos a ideia de
formar a orquestra”, explica Márcio.
Dos treze integrantes do começo, passou
para 23, sendo 19 de cordas e quatro de percussão. “Eram quatro violinos,
depois veio viola, violoncelo, novos violinos e agora tem até contrabaixo. A
orquestra de cordas estava completa, mas faltavam ainda outros instrumentos de
percussão para termos uma orquestra inteira. Com a iniciativa de Fred
Berkemeier, só temos o que celebrar. A qualidade musical está cada vez mais
impressionante”, comemora Crisóstomo.
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