Duas crenças, muitos sabores: mostra gastronômica celebra São João e Xangô
No
mês de junho, enquanto os católicos comemoram São João, protetor dos casados e
dos enfermos, a religião africana celebra Xangô, divindade do Trovão e da
Justiça. Para além do período coincidente, os dois costumes compartilham
semelhanças que se mostram no festejo, no fogo e na farta culinária dedicada a
cada tradição, tendo no milho e no quiabo seus principais ingredientes. Para
festejar o sincretismo e a forte diversidade cultural, a Exposição Culinária
Afro-brasileira no Ciclo Junino possibilitará ao público degustar as iguarias
das duas crenças, neste sábado (8), a partir das 18h, na Praça do Arsenal,
Bairro do Recife.
A
ação, que integra o calendário do São João promovido pela Prefeitura do Recife,
terá 10 barracas no espaço, onde serão oferecidas 5 mil provas dos quitutes. De
São João, serão servidos manjares como
canjica, pé de moleque, munguzá, milho assado e bolo de milho. Já os sabores de
Xangô, sempre temperados com azeite de dendê e pimenta, têm variações como o
gbègiri, uma espécie de ensopado feito com rabada e quiabo, o akará, bolinho de
feijão fradinho, mais conhecido por compor a base do acarajé, e o padé, uma
farinha de mandioca ricamente temperada.
A
mostra, que também procura desmistificar os rituais e costumes da cultura de
Matriz Africana, terá outros elementos que ensinarão ao público sobre a
religião afro-brasileira, como a exibição de adereços e vestimentas usados nos
rituais litúrgicos, bem como a execução de cantos e toques religiosos. De acordo
com a coordenadora da exposição, Ialorixá Elza de Yemoja, a ideia é aproveitar
o período de festejo para falar do respeito entre as religiões: “A junção das
crenças é pra falar de uma pacificação. Trouxemos as comidas de milho para
falar sobre dois credos. É importante se dizer que em junho os cristãos estão
em festejo a São João Batista e São Pedro, ofertando muita comida regada a
milho, colocando o milho como principal ingrediente da comida, enquanto no
candomblé comemora-se o nosso rei de justiça, Xangô. E o milho é muito ofertado
a Oxóssi, o orixá da caça”.
A
abertura da festividade representará o início de um culto de candomblé, quando
será servido o padé, prato oferecido a Exu, divindade da comunicação entre o
céu e a terra. Segundo Mãe Elza, o orixá é também conhecido como “a boca do
mundo”, “por ser o primeiro a ser
alimentado e também porque avisa aos outros orixás da grande festa que ali está
se iniciando”. O padé provado pelo público será preparado com farinha de
mandioca, azeite de dendê, cebola, cebolinha, camarão graúdo e seco e galinha
desfiada.
A
programação conta ainda com uma fala de Frei Tito, representante da Igreja
Católica no Fórum Diálogos, espaço de discussão sobre tolerância e respeito
entre as religiões, roda de Xangô, celebração que começa a despedida da noite,
em torno da fogueira, e apresentações do Coco Chinelo de Ayá, de Dois Unidos, e
Coco de Seu Manoel, de Casa Amarela.
Esta
é a sétima edição da Exposição Culinária Afro-brasileira no Ciclo Junino e pela
primeira vez o evento tem uma homenageada. Trata-se da pernambucana Carmem
Virgínia, a Iyabasé, cozinheira do axé, que recebe o reconhecimento por
apresentar a culinária de terreiro país afora.A primeira versão do evento, em
2007, foi incentivada pelo Núcleo da Cultura Afro-Brasileira e pela Diretoria
de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura do Recife.
Programação:
18h
- Adúrà (reza) aos Ancestrais e cânticos à Exú;
18h30min
- início da Degustação;
20h30min
- Encerramento da degustação e continuação dos cânticos;
21h30min
- Celebração (roda) à Xangô - homenageado da Festa;
22h00min
- Encerramento dos cânticos - Término da Exposição.
Pratos para
degustação:
Padè,
Àkasà Branco, Vatapá, Manjá, Canjica, Pé de Moleque, Arroz Doce, Caruru,
Mungunzá, Àkarà, Àsaro, Milho Verde, Bolo de Milho, Angu, Tapioca. E, os mais
representativos para a divindade Xangô: O Gbègírí e o Àmala.
Receitas
Padé
– Prato servido ao orixá da comunicação, Exu. O padé do ritual religioso é
preparado com farinha de mandioca, azeite de dendê, cebola, cebolinha, camarão,
camarão seco e cachaça. Na versão comestível, sai a cachaça e a farofa é
encorpada com galinha bem temperada e desfiada.
Pica-se
a cebola, a cebolinha, o camarão seco e o camarão graúdo. Tudo isto deve ser
refogado no azeite de dendê, com sal e pimenta malagueta a gosto. A galinha
deve ser temperada e refogada à parte, da mesma maneira. Depois de desfiada a
galinha deve ser misturada ao preparado de farinha.
Akasá
branco – O akasá branco se faz presente em todos os rituais litúrgicos do
candomblé. A mistura de leite de coco, milho branco ralado e mel de abelha é
cozinhada como um mingau, servido em folha de bananeira.
Akará
– O prato é considerado o pão africano. A massa é feita com feijão fradinho
batido e temperada com cebola, sal e camarão seco. Preparam-se bolinhos, que
são fritos no azeite de dendê.
Gbègiri
- Comida mais apreciada por Xangô. Refoga-se a carne bovina, peito e rabada,
temperada com sal, cebola e cebolinha. Quando a carne estiver refogada,
junta-se o quiabo picado e, se necessário, deve ser acrescentado um pouco de
água. Depois que a carne estiver cozida, acrescenta-se camarão, castanhas
inteiras, amendoim triturado, gengibre pilado, gergelim e, se desejar, pimenta.
Quando o ensopado estiver bem espesso, é o ponto de desligar. Essa comida é
servida na hora que sai do fogo. Xangô come pratos quentes, servidos em tigelas
de madeira, as gamelas.
Adereços
Oxé:
Machado de duas lâminas, um dos principais apetrechos de Xangô. É o símbolo
através do qual o orixá convida o trovão a vir à terra. A lâmina dupla exprime
também justiça, pois representa o equilíbrio.
Ojá:
Faixa adornada que cobre áreas consideradas sagradas na religião africana, como
o ombro, o ventre e a cabeça.
Abebé:
O símbolo, representado pela junção de um sol e um espelho, é um dos principais
apetrechos de Oxum, divindade da beleza feminina e cuidadora dos rios.
Serviço:
Mostra
gastronômica São João e Xangô
Onde/Quando/Hora:
neste sábado (8), das 18h às 22h, no Arraial da Praça do Arsenal promovido pela
Prefeitura do Recife.
Comentários
Postar um comentário