Eu quero mais é ser feliz!

Aula na Casa de Dança Everaldo Lins

                          Texto e fotos: Erika Fraga
     
Nascer, crescer e envelhecer, esse é o ciclo natural da vida. Mas, infelizmente, nem todas as pessoas chegam ao fim desse ciclo, e os chegam são dignos de respeito e admiração. Oficialmente, a terceira idade tem início aos 60 anos e com eles chega também o pensamento retrógado da sociedade que diz que nessa idade as atividades ideais para os idosos resumem-se a jogar xadrez e fazer crochê. Sendo assim, em homenagem ao Dia Internacional do Idoso, comemorado no dia 1º deste mês, a Agenda vai passear um pouco pelo universo desses “jovens”, para entender como eles estão vivenciando a boa idade. Escolhemos como fio condutor a dança, pois que proporciona encantamento em pessoas de todas as idades.

Grupo Sedução
A dança, considerada uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade, ainda hoje consegue exercer um imenso fascínio sobre as pessoas. Assim como quase todas as atividades físicas, seus benefícios são incontáveis. Entre eles, o aumento da flexibilidade, o fortalecimento e a tonificação da musculatura, a queima de gordura e como consequência a perda de peso, sem falar que ela protege as articulações e exercita o equilíbrio. Mas os benefícios não são apenas físicos. Já está comprovado que a dança é uma ótima terapia no combate ao estresse, no alívio da depressão, no aumento da autoestima, no controle da ansiedade, na melhoria da timidez, entre outros. Especialmente para os solteiros, os bailes são ótimos lugares para paquerar e até quem sabe arrumar um casamento.

Francisco Canidé
Motivos para dançar não faltam principalmente para quem está vivenciando a terceira idade. Aqui no Estado além dos tradicionais clubes e bailes encontramos cursos e grupos de terceira idade. Na Casa de Dança Everaldo Lins, existem vários idosos que todas as noites saem das suas residências e se dirigem até o espaço, com o único intuito de ser feliz. Segundo o professor Everaldo Lins, muitos deles chegam até lá por indicação médica, ou melhor, como uma forma divertida de se exercitarem e encontram na dança a solução ideal, já que ela envolve todo o corpo. Outro motivo importante é a interação social, já que as turmas não são separas por faixa etária e isso possibilita aos idosos uma troca de experiência com os mais jovens. “Aqui na escola não temos turmas de terceira idade, percebemos que eles não se sentem bem porque as pessoas começam a tratá-los como velhos, e isso não é bom.  Sendo assim, procuramos colocá-los em turmas nas quais eles terão condições de dançar, sem atrapalhar o andamento dos outros alunos”, ressalta.


Recomendação médica foi o motivo que fez Maria da Glória Galvão de Aguiar, 74 anos, procurar as aulas de dança. Ela frequenta há quatro anos a Everaldo Lins e garante que, graças às aulas, conseguiu controlar a hipertensão e a glicose. Já o senhor Francisco Canindé, 61 anos, entrou há pouco tempo na “terceira idade”. Segundo ele, seu interesse pela dança veio da necessidade de realizar uma atividade física. “Em sete anos de aulas notei que o meu condicionamento físico melhorou bastante. A dança é gratificante, ela surgiu em minha vida no momento em que eu estava precisando, além de ser uma atividade que trouxe ótimos benefícios para mim”, comenta Francisco.

Graça Xavier na apresentação da Casa de
Dança Everaldo Lins. Foto no Teatro do Parque/ Divulgação
A dança faz com que os idosos sejam mais tolerantes, pois eles convivem no dia a dia com pessoas de diferentes idades e culturas. O cuidado com o visual também melhora bastante. Para o professor Everaldo Lins, é nítida a mudança de comportamento dos alunos quando chegam à aula de dança. Normalmente eles chegam de uma forma mais tímida e com o passar do tempo começam a se preocupar também com a estética, vestindo-se melhor, usando perfume e, no caso das mulheres, começam até a se maquiar.

Os filhos também podem incentivar os pais a começarem a dançar, e não importa o estilo, o primordial é o prazer que a dança proporciona àqueles que a praticam. Dona Maria Soledade, 67 anos, é um exemplo disso. Matriculou-se há pouco mais de um ano, e deve isso ao filho que também frequenta a Everaldo. Para ela, a dança é o complemento da alegria e do prazer. “É uma atividade física maravilhosa e que nos proporciona prazer, sem falar que ela também é uma terapia. Nas aulas temos contato com pessoas mais jovens e elas nos deixam mais vivas. Acredito que todo mundo deveria experimentar pelo menos uma vez na vida”, declara dona Maria. Também temos Maria de Fátima que foi incentivada pela filha, ela frequenta as aulas de dança do Sesc Piedade há 7 anos e foi lá, segundo ela, onde aprendeu a viver. A dança a ajudou a espairecer e a superar uma depressão muito forte. Hoje ela faz aulas de dança e também participa do coral, da hidroginástica e do clube de dominó.

Casamento de Graça Xavier com Luiz Fernando.
Foto: Divulgação
A rede Sesc Nordeste há um bom tempo desenvolve um trabalho voltado para a terceira idade. No Sesc Piedade, o trabalho com os idosos começou há 13 anos com a criação do Grupo Sedução. Hoje o espaço conta com a participação de aproximadamente 280 pessoas que praticam aulas de dança, canto, teatro, hidroginástica, jogos e ainda formam grupos de viagens.

Cerca de 90% dos idosos que chegam até o local estão passando por um momento complicado na vida. A grande maioria vem para tentar superar a perda de um ente querido e encontra no Sesc um clima de fraternidade maravilhoso, como é o caso do grupo de dança. Tendo à frente a professora Janaína Gomes, 26 anos, o grupo possui pouco mais de 30 participantes com idades variadas chegando a ter pessoas de 85 anos. As jovens senhoras, como gostam de ser chamadas, são muito animadas e descontraídas, algumas se arriscam até em dizer até que são “amostradas e exibidas”.  

O grupo foi formado há dez anos e entre os fundadores estão Iraildes Araújo, Maria de Pompeia e Ezeilda Cardozo, as três não só ajudaram a construir o grupo de dança, como montaram um maracatu, um bloco carnavalesco e o grupo de teatro. O trabalho desenvolvido pelas amigas é reconhecido e admirado por todos que frequentam o Grupo Sedução. Muitos atribuem a elas o fato de o grupo existir até os dias de hoje. “Só estamos aqui por causa dessas pessoas, tudo isso devemos a elas. Foram elas com toda bravura que conseguiram montar o coral, a dança, o teatro...”, afirma a aposentada Euclidia, que participa do grupo há dois anos.

Iraildes frequenta o Sesc há 13 anos, participou da escolha para o nome do grupo, ajudou a formar com as duas amigas um grupo de pastoril e até faz as roupas de algumas apresentações. Maria da Pompeia passou por uma depressão, curou-se de um câncer e graças ao apoio que ela encontra no Sedução conseguiu “superar tudo isso”, completa. Ezeilda, mais conhecida como Zita, também participa do grupo desde o início, faz coral, teatro e dança popular; já foi rainha do maracatu e durante dez anos ostentou o título de rainha do Carnaval do SESC junto com o marido como Rei Momo. Mas desde 2008 está afastada dos Carnavais por conta de um AVC sofrido pelo marido. Com Maria da Pompeia, ele escreve as peças do grupo de teatro e interpreta cidade afora. O sonho dessas amigas e de todas as outras que frequentam o grupo é ver reativado o Maracatu criado por elas.

Muitos acreditam que, à medida que se vai envelhecendo, “as pessoas vão ficando sem vergonha”, mas é sem vergonha no sentido de procurar ser feliz, ao menos é assim que Jane, 72 anos, vê a vida. Esse é o segundo ano que ela participa das aulas de dança do Sesc Piedade. “Sempre digo que envelhecer não é fácil, pois você vai tendo mais perdas do que ganhos, mas quando queremos envelhecer com qualidade de vida temos que nos juntar e ajudar uns aos outros. Dentro de poucos dias, completarei 73 anos, mas não sou eu quem está fazendo essa idade são os meus joelhos, minha coluna, meu quadril, mas eu não tenho essa idade”, brinca Jane. O fato é que envelhecer com qualidade é ter acima de tudo a mente atualizada e ter coragem de ser feliz procurando o que nos faz bem.

E mesmo quem começou a dança há pouco tempo já tem consciência da importância que é se movimentar e praticar algum exercício. Vandileusa entrou no grupo de dança há um mês, mas já se sente outra pessoa. “Todo mundo tem problemas, porém o importante é não valorizá-los e quando estamos dançando esquecemos tudo. Eu vou completar 70 anos, mas quero dizer a todos que velho é o mar, e mesmo assim está cheio de ondas”, declara.

Até quem ainda não chegou à terceira idade já caiu no embalo dos bailinhos, como é o caso da funcionária pública Graça Xavier, 51 anos. A dança na vida de Graça surgiu como uma libertação de um casamento fracassado. “Comecei por incentivo da minha irmã, nos matriculamos juntas na aula de dança, pensei até em desistir, mas ela me fez continuar firme e forte e o que era apenas uma curiosidade se transformou numa paixão. Dançar é maravilhoso e tenho certeza de que vou dançar até morrer”, comenta Graça.

A dança não trouxe para Graça apenas a paixão pelo salão, mas também um novo amor. Foi nos bailes realizados no Clube da Sudene que Graça conheceu Luiz Fernando, um pé de valsa nato, e logo a desenvoltura de Fernando no salão a conquistou de vez. O resultado não poderia ser diferente, casamento na certa. Eles estão casados há três meses e continuam abrilhantando os salões por aí afora.
Para as senhoras que gostam de dançar mas não encontram um cavalheiro a sua altura, existe um profissional chamado personal dancer. Quem ainda não conhece, eles são contratados para acompanhar uma dama, ou um grupo, a um baile ou a qualquer outra festa. Seu trabalho é extremamente profissional e respeitoso. A forma mais fácil e segura de entrar em contato com eles é ligando para as academias de dança, algumas até oferecem esse serviço. Segundo Lucas Fernandes, presonal dancer há quase dois anos, as clientes que o procuram, pelo menos boa parte delas, são pessoas da terceira idade. “Recebo muito convites para formaturas e festas de família, mas também existem as pessoas que gostam de frequentar os bailes, como o do Clube da Sudene, o Clube das Pás, entre outros lugares muito frequentados por pessoas da terceira idade”, revela Lucas. O preço de um personal varia muito, mas a média fica entre R$ 120 reais três horas, como é o caso de Lucas. 

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