Museu Murillo La Greca recebe a exposição O efeito da frase

Concerto para mão esquerda

O efeito da frase é uma mostra sobre a narração, observada como estratégia e sintoma dos trabalhos de um coletivo e sete artistas, dentre eles seis brasileiros e um português. Reunidos pela curadoria de Ana Maria Maia, uma das três selecionadas no edital do Projeto Amplificadores 2012, do Museu Murillo La Greca, Cristiano Lenhardt, Daniel Barroca, Deyson Gilbert&Roberto Winter, Glauber Rocha, Jimson Vilela, Telephone Colorido e Yuri Firmeza geram evidências de como o sujeito (interlocutor, intérprete de uma entre tantas versões possíveis) é preponderante para a escrita da história, ao trazer certos cânones para a escala da experiência pessoal ou enfatizar um campo de fala que varre dos diários pessoais à esfera pública da imprensa.

A mostra coletiva, que acontecerá entre 22 de julho e 26 de agosto de 2012, não almeja promover uma leitura conclusiva sobre os gestos de narração. Almeja, sim, suscitar questões como: quais são os agentes da história? Como imbuir a experiência presente de historicidade? Como evitar a redundância da colagem e perseguir narrativas que, embora particulares, sejam implicadas numa agenda coletiva?

Som Capanema, trabalho realizado por Cristiano Lenhardt em 2004, funciona como uma metáfora das estratégias reunidas na exposição. Feito como um exercício em que o artista utiliza sua própria voz para reverberar o interior de prédios públicos, ele elucida sobre um espaço e de um tempo fundados a partir da narrativa. Enfatiza a ação de um sujeito e de sua corporeidade sobre algo que, até então, pertencia à ordem estática e inconteste dos monumentos.  O registro desta ação pertence ao escopo da mostra e antecipa três caminhos a serem desenvolvidos, a partir de obras de outros artistas.


Som Capanema
O primeiro deles relaciona-se com a percepção da individualidade do sujeito-artista plasmada em seus enunciados de obra. Algo que se pode relacionar com o programa de uma vanguarda expressionista, que, no contexto da arte moderna, postulou a integridade do indivíduo ante a massificação da vida urbana e a iminência de morte simbólica e real, com o arranjo de uma 2a. Guerra Mundial. Nesta chave de leitura, são incluídos desenhos de Cristiano e livros de Jimson Vilela, ambos ancorados na gestualidade de vivências de seus autores e, por isso, dotados de grande expressividade.

O segundo ponto reúne trabalhos que atestam a abertura da disciplina histórica, ou, ao menos, tensionam de diferentes formas a assertividade que costuma demarcar os discursos convencionados sobre o passado. Ao aplicar uma faixa vermelha sobre um vinil, Deyson Gilbert & Roberto Winter tornam ruidosa e intermitente a emissão do Concerto para mão esquerda, de Ravel.  Colecionando fotografias antigas e interferindo manualmente sobre elas, Daniel Barroca cultiva uma arqueologia de imagens afeita a falhas e rumores. Forjando o rapto do escritor Ariano Suassuna, o grupo Telephone Colorido corrompe o cânone de um Nordeste armorial.

O último aspecto a ser abordado diz respeito ao lugar do pensamento artístico e/ou crítico numa pauta de discussão pública, agendada pelos veículos de imprensa. Frente ao gradual esvaziamento dos canais de comunicação ora ocupados com a reflexão e o experimento em arte – vide a coluna de Mário Pedrosa no Jornal do Brasil, em 1957, ou os eventos que demarcam o início da videoarte em emissoras de TV norte-americanas, nos anos 1960 e 1970 –, cabe pontuar iniciativas de ocupação midiática.

No contexto do fim da ditadura (1980 – 1981), a atuação de Glauber Rocha à frente de um quadro de entrevistas do Programa Abertura (TV Tupi) configura um ato de resistência. Na atualidade, a série de textos que Yuri Firmeza publica no jornal O Estado de Minas busca a retomada de espaços e a disponibilidade de um vocabulário de apreciação e debate de arte no cotidiano de um público não-especializado. Idealmente, além da exibição do registro de sua ação inicial, o projeto motivará uma nova ocupação, agora na imprensa pernambucana.  

Estes são dois casos notórios de um grupo certamente maior relativo à presença artística e crítica na imprensa. Junto com os demais trabalhos reunidos em O.E.D.F – também eles pertencentes a um universo mais amplo – não se objetiva inventariar uma genealogia de relações entre arte e história, mas apenas indicar ocorrências em que as estratégias de ambas as disciplinas entremeiam-se para fundar perspectivas.  Da coletividade ao sujeito, do monumento à experiência, da ciência à ficção, das certezas a uma arena plural de vozes e escutas.

Artistas: Cristiano Lenhardt (RS/PE), Daniel Barroca (Portugal),
Deyson Gilbert & Roberto Winter (SP), Glauber Rocha (RJ),
Jimson Vilela (RJ/SP), Yuri Firmeza (CE), Telephone Colorido (PE).
Performance de abertura: Cristiano Lenhardt, Fernando Peres e Marie Carangi (PE).

Curadora: Ana Maria Maia


Serviço:
Mostra O efeito da frase – Projeto Amplificadores 2012
Abertura: Domingo, 22 de julho de 2012, a partir das 17h
Performance às 19h
Até 26 de agosto de 2012, segunda a sexta, 9h às 17h
Museu Murillo La Greca
Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366 – Parnamirim
Recife – PE | 81-3232-4276

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