Homenageados do Carnaval do Recife 2012

Alceu Valença. Foto: Blenda Souto Maior/DP

Alceu Valença

Alceu Paiva Valença nasceu no dia 1 de julho de 1946, em São Bento do Una, no Agreste pernambucano. Aos oito anos de idade, mudou-se com a família para a Rua dos Palmares, no Recife, onde se descortinou – diante dos seus olhos e ouvidos – uma cultura diferente daquela praticada em sua terra natal. Foi a partir desse momento, que absorveu influências de diversos ritmos como frevo, maracatu, caboclinho e ciranda. Ele assumiu a música como ofício ao classificar três composições nas eliminatórias do Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, em 1970. Com isso, mudou-se para o Rio de Janeiro e formou o grupo Os Pernambucanos, junto com Geraldo Azevedo e Paulo Guimarães. Esse foi o início de uma carreira de sucesso. 

Para o Carnaval deste ano, o cantor já decidiu que irá se fantasiar de Dom Quixote de La Mancha, da obra de Miguel de Cervantes, para ajudar na sua já conhecida batalha com relação à valorização da cultura local. Em conversa com o repórter Gianfrancesco Mello, Alceu Valença fala sobre a influência familiar na sua musicalidade, sua projeção universal, a indústria cultural e o fato de ser, em 2012, um dos homenageados do Carnaval Multicultural do Recife.

1. Você sempre diz que a música que você compõe sofre influência de seu avô, o poeta e violeiro Orestes Alves Valença. Foi por meio dele que a música entrou na sua vida? 

Minha família sempre foi muito ligada à música e à poesia. Desde menino, eu participava dos saraus que meu avô Orestes organizava na Fazenda Riachão, próximo a São Bento do Una, onde nasci. Entretanto, quando eu tinha cinco anos, fui brincar com um instrumento de percussão e atravessei o andamento da música. Meu avô me repreendeu e pediu que outra pessoa assumisse o instrumento em meu lugar. “Este menino não tem ritmo!”, sentenciou. Por causa desse episódio, acreditei durante muito tempo que eu era totalmente desprovido de ritmo. Um ano depois, porém, participei de um concurso de talentos mirins, no Cine Rex de São Bento, cantando É frevo, meu bem, de Capiba, acompanhado ao violão por meu tio Rinaldo. O prêmio era uma caixa de sabonetes e eu fiquei em segundo lugar. Perdi para um menino que cantou o bolero Granada, em espanhol. Desde então, eu já me lascava por preferir as coisas brasileiras. Mas fiquei tão fascinado com o palco que comecei a dar cambalhotas durante a premiação do meu concorrente. De alguma maneira, eu descobria ali a minha vocação.


Foto: Lionel Flusin
2. Você é pernambucano, mas se transformou em um artista de repercussão nacional. Como você avalia o regional e o universal na sua música? 

Um artista se torna universal pela força de sua identidade. Jamais gostei de copiar modelos importados. Aliás, jamais gostei de imitar quem quer que fosse. Penso que um artista não deve ter ídolos. É normal você se inspirar em alguém, sobretudo no início da carreira. Mas não consigo achar graça em um que pretenda ser a Madonna brasileira ou o Michael Jackson do Nordeste. Nesses casos, o artista vira carne de segunda. De qualquer maneira, eu me sinto regional e universal ao mesmo tempo. Regional, porque minha arte é formada pelos gêneros musicais que constituem a minha própria essência: frevo, maracatu, ciranda, caboclinho, forró, xote, toada, etc. Procuro interpretá-los de uma maneira contemporânea, que dialogue com os nossos dias e que me torne também universal. Ao longo de minha carreira, tenho apresentado minha arte universalmente, de Norte a Sul do Brasil e também na Suíça, na Itália, na França, na Alemanha, nos EUA e na Argentina.

3. Você sempre “comprou brigas” com a indústria cultural brasileira. Como são essas “lutas” hoje em dia?

Minha luta é por uma sociedade mais justa. Alegro-me ao ver o povo brasileiro progredindo socialmente, tendo acesso a uma vida mais digna, como tem acontecido nos últimos anos. O que eu lamento é a perda dos conceitos, algo que tem acontecido progressivamente no mundo inteiro, desde a queda do muro de Berlim. A cultura corre o risco de se transformar em algo puramente mercadológico, superficial e hedonista, o que eu não gostaria que acontecesse. Por isso, mantenho-me em minha trincheira, lutando com vigor e alegria pela cultura e pela arte de Pernambuco e do Nordeste.

4. Depois de muitos anos cantando e valorizando o frevo, você foi escolhido para ser um dos homenageados do Carnaval 2012. Como você recebeu a notícia desta homenagem?

Fico muito emocionado em receber esta homenagem da cidade do Recife. Temos o melhor Carnaval do Brasil, o mais popular, democrático e verdadeiro. Estarei no Marco Zero, no Galo da Madrugada, no Baile Municipal e em mais alguns polos. Aproveito para convidar a todos para celebrar o Carnaval comigo e para fazer o download do meu Frevo da Lua, disponível de graça no meu site www.alceuvalenca.com.br. Quero ver todo mundo cantando comigo neste Carnaval.


                                           


                                                                Perfil de Zé Cláudio




Por: Erika Fraga | Foto: Jóas Benedito

Um ipojucano de múltiplos talentos. Assim pode ser considerado José Cláudio da Silva ou simplesmente, Zé Cláudio.  Nascido em 1932, ele que é considerado um dos maiores representantes da arte contemporânea brasileira, contempla um currículo admirável: é pintor, desenhista, escultor, crítico de arte e até escritor. Os seus primeiros traços vieram ainda na infância, quando brincava com os papeis de embrulho da loja de seu pai. “Tive um padrinho de crisma (Othon Fialho de Oliveira), que gostava muito de desenhar os “matutos” e o cotidiano de Ipojuca. E foi inspirado nele que comecei a desenhar, porém, eu gostava de desenhar boi, vaca, todos os bichos”, revelou um dos homenageados do Carnaval do Recife.


Em novembro do ano passado, Zé Cláudio foi o homenageado do Olinda arte em toda parte, agora, como ícone do Carnaval Multicultural do Recife, ele terá oportunidade de presentear a cidade com a beleza de suas obras. “Estou muito feliz de ter sido homenageado no Recife, lugar que é a minha referência”, afirma Zé Cláudio que, apesar de não gostar de cair na folia, considera-se um grande espectador.  “Sempre fui de olhar o Carnaval. Não gostava de cair na folia, mas não abria mão de ver de perto tudo o que acontecia. Prefiro pequenas troças, cavalo-marinho, bumba meu boi e maracatu. Isso lembra minha infância em Ipojuca.” Apesar da idade avançada, ele garante que, na medida do possível, irá dar uma voltinha para olhar de perto o frevo.


Além de ver as gravuras com as obras do artista plástico espalhadas pela cidade, os foliões e admiradores do seu trabalho podem adquirir camisas, regatas (femininas e masculinas), vestidos, bermudas e bolsas com ilustrações que remetem à sua obra. As peças são assinadas pela estilista Bete Paes e estão à venda na loja oficial da Grife do Carnaval Multicultural, localizado no Terminal Marítimo de Passageiros, no Marco Zero.


Além de uma carreira brilhante como artista plástico, ele também é bem sucedido como escritor e chegou a publicar alguns livros, entre eles Viagem de um jovem pintor à Bahia e Ipojuca de Santo Cristo (1965), Bem dentro (1968) e Meu pai não viu a minha glória (1995). Saudoso, ele contou como surgiu a crônica Meu pai não viu a minha glória, que dá título ao seu livro. “Certa noite, eu estava tomando banho de cuia no quintal e me sentindo feliz pelas minhas conquistas. Foi aí que lembrei do meu pai, pois a minha glória consiste em estar vivo fazendo o que eu gosto”. Em 2009, a vida de Zé Cláudio foi retratada no livro José Cláudio – Vida e Obra. Editado pelo escritor e jornalista Marco Polo Guimarães, o livro (à venda na Livraria Cultura), apresenta uma vasta produção do artista, desde suas primeiras obras até as suas pinturas mais conhecidas.


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