Curiosidades do Carnaval: O rito pede passagem

Por Gianfrancesco Mello

Celebrar a transição e mudar o status de uma pessoa da comunidade. Esse é o rito de passagem. Desde a Era Primitiva, essa cerimônia representa a aceitação e a participação do indivíduo em uma determinada sociedade, tendo assim um cunho individual, mas, ao mesmo tempo, coletivo. Com relação ao Carnaval, muito se fala na perda de identidade e no verdadeiro significado de alguns blocos. Para isso, percebe-se, há alguns anos, a necessidade de avivar nos jovens o amor pela tradição. É o que acontece, atualmente, com o Banhistas do Pina e o Batutas de São José. Ambos são extremamente tradicionais na Folia de Momo e, neste ano, completam 80 anos de existência.

Segundo a filósofa Myrian Brasileiro, essas instituições envelheceram, ficaram experientes e precisam realizar o rito de passagem. “Sempre colocamos as crianças para abrir o desfile por representar a renovação e precisamos dar um suporte qualitativo a essa cerimônia. Os desfiles dos blocos devem ser algo para além do Carnaval”, frisa. Para o professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Fernando Limoeiro, o símbolo interfere na realidade. “É preciso que haja uma continuidade e um comprometimento dos integrantes dos blocos. O simbolismo de um rito de passagem é só para cutucar essas pessoas, pois, se não há um laço afetivo, é inútil”, pontua.


Já Marcelo Varella, que é jornalista e assessor técnico da Fundação de Cultura Cidade do Recife, explica que existe o rito de passagem que vem naturalmente (é normal realizar a cerimônia) e o consciente (ao perceber a necessidade da troca). “É preciso ter coração para que a agremiação sobreviva. Falta coração nos mais jovens, pois tudo está fluindo de maneira artificial. Os jovens são, na maioria das vezes, personagens de um mundo no qual não sabem o fundamento de estarem ali”, completa. Varella diz também que “até os anos 1970, sentia-se que as pessoas desfilavam de coração e, hoje, está sendo o quanto mais gente melhor”.

“Quando minha mãe faleceu, disse: Vavá, jamais deixe o Banhistas morrer. É por isso que pretendo passar adiante a presidência do bloco, porque já estou cansado”, enfatizou o presidente do Banhistas do Pina, Lindivaldo Leite, mais conhecido como Vavá. Com toda essa discussão, fica a pergunta: Por que muitos jovens não se interessam pela tradição? Talvez seja preciso conhecer e respeitar as mudanças que ocorrem no mundo, ganhar a confiança dos cidadãos e aproximar o conteúdo histórico do cotidiano das pessoas.

80 anos de muita história

Foto: Divulgação
Banhistas do Pina
Foi fundado no dia 3 de março de 1932 por moradores do Pina, que se reuniam em um boteco do bairro para comemorar a Revolução de 1930. O bloco carnavalesco recifense teve entre seus fundadores o compositor Luís Faustino e acumulou durante todos esses anos, vários títulos, entre eles: o heptacampeonato. Sua música, tocada por uma orquestra de pau e corda, é uma referência na categoria Frevo de Bloco. “Luís Faustino começou o bloco com um abajur na mão, depois passou a tocar violão e assim foi surgindo o Banhistas”, explica o presidente do Banhistas do Pina, Lindivaldo Leite.

Foto: Divulgação
Batutas de São José
O Bloco Carnavalesco Misto Batutas de São José foi fundado por Augusto Bandeira no dia 5 de junho de 1932, no Pátio de São Pedro, no centro do Recife, com uma festa animada pela banda do 21º Batalhão de Caçadores. A história do bloco foi contada por meio das músicas do compositor e carnavalesco João Santiago dos Reis, que se inspirou no dia a dia da agremiação. Com a música e atual hino Sabe lá o que é isso?, que foi feita para o Carnaval de 1952, o bloco obteve o seu maior sucesso comercial. Atualmente, o Batutas de São José, que fica no bairro de Afogados, é frequentado e administrado apenas por antigos sócios. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Exposição na Galeria Massangana conta a atuação do Ministério Público contra o racismo em diálogo com obras de jovens artistas

“Chupingole! As aventuras de um mangueboy’, uma comédia em cartaz no Teatro André Filho

CAIXA Cultural Recife apresenta mulheres de repente